quarta-feira, 23 de junho de 2010

Nas brumas da inconsciência


Impressionante como algumas situações desconhecidas, alguns assuntos tratados e frases escritas me são familiares. É como se o senso de justiça e minha consciência já as tivesse registrado, identifico-me profundamente com certas situações, muitas vezes é como um despertar, onde a mente parece ver a vida em extensão e profundidade, sem mistérios intransponíveis.




Frase ditada pelo espírito André Luiz.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Uma bonita entrevista com um Tuareg - Moussa Ag Assarid, realizada por Víctor M Amela

Não sei minha idade. Nasci no Deserto do Saara, sem documentos.
- Nasci em um acampamento dos nômades tuaregs entre Timbuctu e Gao, ao norte de Mali, Fui pastor de camelos, cabras, cordeiros e vacas de meu pai. Hoje estudo gestão na Universidade de Montpellier.

Estou solteiro. Defendo aos pastores tuaregs.

Sou muçulmano, sem fanatismo.

- Que turbante tão formoso!

É uma fina tela de algodão: permite tapar o rosto no deserto, e continuar a ver e respirar através dele.

- É de um azul belíssimo…

Nós, os tuaregs, somos chamados de homens azuis por isso:

-O tecido solta alguma tinta e nossa pele adquire tons azulados

Como conseguem esse tom de azul anil?

Com uma planta chamada índigo, mesclada com outros pigmentos naturais. Para os tuaregs o azul é a cor do mundo.

-Porque?

- É a cor dominante: é a cor do céu, do teto de nossa casa.

-Quem são os tuaregs?

Tuareg significa “abandonados”, porque somos um velho povo

nômade do deserto, solitários e orgulhosos: "Senhores do Deserto", é como nos chamam. Nossa etnia é a amasigh (bereber), e o nosso alfabeto, o tifinagh.

-Quantos são?

- Uns três milhões, e a maioria permanece nômade.

Mas a população diminui. “É preciso que um povo desapareça, para que saibamos que ele existiu!” Apregoava um sábio. Eu luto para preservar esse povo.

- A que se dedicam?

- Pastoremos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio

-O deserto é realmente tão silencioso?

- Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho.

-Quais recordações de sua infância vc conserva com maior nitidez?

-- Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai.

Elas nos dão leite e carne, nós a levamos onde há água e pasto… Assim fizeram meu bizavô, meu avô e meu pai… e eu.

- Não havia outra coisa no mundo além disso. E eu era muito feliz com isso.

-De fato! Não parece muito estimulante…

- Mas é muito! Aos sete anos já te deixam afastar-se do acampamento para que aprendas coisas importantes: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e as estrelas… E a deixar-se levar pelo camelo, se vc se perder. Ele te levará onde há água.

-Saber isso é valioso, sem dúvida…

-Ali tudo é simples e profundo.

Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor!

- Então esse mundo e aquele são muito diferentes, não?

-Ali cada pequena coisa te proporciona felicidade.

Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é!

O que mais o chocou em sua primeira viagem à Europa?

Ver as pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia. Me assustei. É claro!

Eles apenas iam buscar suas malas…

- Sim! Era isso. Também vi cartazes de mulheres nuas. Me perguntei: porque essa falta de respeito para com a mulher?

Depois, no Íbis Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar…

- Que abundância! Que desperdício! Não?

- Todos os dias da minha vida consistiam-se em procurar água.

Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa…

-Tanto assim?

- Sim! No começo dos anos 90 houve uma grande seca.

Morreram os animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim! Me contava histórias e ensinou-me a contá-las muito bem. Ela me ensinou a ser eu mesmo.

- O que sucedeu com sua família?

Convenci meu pai que me deixasse ir à escola. Quase todo dia caminhava 15km. Até que um dia o professor me arranjou um lugar para dormir e uma senhora me dava o que comer, quando eu passava em frente à sua casa.

Entendi que essa ajuda vinha de minha mãe.

De onde surgiu esse desejo de estudar?

Uns dois anos antes, havia passado pelo nosso acampamento o rally Paris-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro de sua Mochila. Eu o apanhei e lhe entreguei. Ela me deu o mesmo de presente. Era um exemplar do Pequeno Príncipe e eu me prometi que um dia conseguiria lê-lo.

- E conseguiu.

-Sim! Foi assim que consegui uma bolsa de estudos na França.

- Um Tuareg na universidade!

Ah, o que mais sinto falta aqui é o leite de camela... E o calor da fogueira, e de andar com os pés descalços na areia quente.

Lá nós olhamos as estrelas todas as noites e cada estrela é diferente das outras como cada cabra é diferente.

Aqui, à noite, você olha para TV.

- Sim! E o que vc acha pior aqui?

- Vocês tem tudo, mas não acham suficiente. Vocês se queixam.

Na França passam a vida reclamando! Aprisionam-se pelo resto da vida à uma dívida bancária, num desejo de possuir tudo rapidamente ...

No deserto não há congestionamentos. e você sabe por quê?

Porque lá ninguém quer ultrapassar ninguém!

- Conte-me um momento de extrema felicidade no seu deserto distante.

- Todo dia, duas horas antes do pôr do sol: a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, e os homens e os animais, lentamente voltam para o acampamento e seus perfis são recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde...

Fascinante, na verdade... É um momento mágico ... Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver. Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição ...

A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura...

-Que paz!

-Aquí vocês tem relógio… lá temos tempo. O tempo é como um rio.

Você não pode tocar a mesma água duas vezes, porque a água que passou, não passará de novo.


Valorize cada momento vivido, e esse tesouro terá muito mais valor se você compartilhá-lo com alguém especial, especial o suficiente para vc gastar com ele o seu tempo... e lembre-se que o tempo não espera por ninguém.